tem, mas acabou #12 | talvez a gente esteja se distraindo demais
já notou? tem distração que é método para evitar que a gente se mova e mude as coisas...
provocar. semana passada, separei algumas referências que queria compartilhar e até decidi trazer mesmo algumas pra cá.
confesso a você que gostaria de fazer uma news mais bacana, trazendo informações aleatórias e interessantes que fizessem você pensar: onde foi que ela encontrou isso? que talvez te levassem a se desconectar da realidade ao invés de se conectar tanto com ela.
mas é como dizia james baldwin, não conseguimos mudar o que não conseguimos encarar e eu preciso que as coisas mudem. você precisa que as coisas mudem, espero.
🔎 a news de hoje é sobre:
james baldwin
subversão
e arte (porque jamais desistirei da arte)
vira e mexe, lembro das apresentações infantis que já assisti na escola dos meus priminhos e em uma música, em especial. diz assim: "cuida do jardim pra mim, deixa a terra florescer! pensa no filhote, do filhote que ainda vai nascer…" 🥹
na sequência, me questiono se os adultos da plateia realmente pensam nesse futuro e, mais importante, o que pensam sobre esse futuro. as crianças estão lá, lindinhas, pedindo por um favor que ecoa há muito, muito tempo na mente vazia de muita gente, sem produzir uma resposta positiva e verdadeira.
sim, muita gente tenta. eu tento e talvez você também, mas a gente sabe que é pouco. em boa parte, somos ativistas de sofá. sendo preciso ir além, sentimos a angústia do não saber o que ou como fazer e medo.
é assustador quando uma (ex) presidenciável da ~maior potência do mundo~ escreve "kill them all" em uma bomba que faz parte do arsenal de um país que decidiu por eliminar todo um povo à luz do dia, tendo o mundo como testemunha (depois de décadas de estratégias nefastas para isolar, enfraquecer e reduzir um povo à condição de "animais humanos" para que pudesse m4tar sem ser repreendido).
"As crianças são sempre nossas, cada uma delas, em todo o mundo; e estou começando a suspeitar que quem é incapaz de reconhecer isso pode ser incapaz de moralidade".
― James Baldwin
(aconteceu na sua rede também? nas últimas semanas, notei um aumento de postagens com frases de Baldwin nas redes. tem a ver, claro, com a violação sem precedentes dos direitos humanos que temos testemunhado)
lembra de que falei sobre compartilhar a arte em sua essência de provocar? li há pouco na edição #63 de teoricamente sobre como o entretenimento engoliu a arte e, infelizmente, é verdade.
o entretenimento distraí, enquanto a arte provoca. sim, há momentos em que as duas coisas se encontram. mas mesmo que você não seja alguém que sente que pode dizer que consome arte, você sabe a diferença.
não sou contra o que distraí. inclusive, acho fundamental para a nossa sobrevivência. mas não acho bom que talvez a gente esteja se distraindo demais.
sem julgar ninguém (de verdade), sobretudo por não termos uma cultura de informação, foi só "ontem" que uma imagem feita por AI viralizou e mais pessoas se deram conta de que algo aconteceu em Rafah.
a frase de James Baldwin me faz pensar em coragem moral; um conceito que conheci recentemente, quando vi pessoas judias se posicionamento veementemente contra as atrocidades que estão sendo feitas supostamente em seu nome. são as pessoas mais corajosas que existem no mundo hoje.
estou tentando, dia após dia, me inspirar e fazer algo ― embora eu ainda não saiba muito bem o que fazer além de pressionar nosso governo a cortar relações e cutucar onde dói: no bolso (das marcas que financiam tudo isso).
ler o que a (ex) presidenciável americana escreveu no maldito artefato bélico israelense me fez pensar que a subversão da realidade nunca foi tão necessária. o fato de estarmos assistindo um dos maiores gen0cídios da história é real. o fato de que esse ato é apoiado por incontáveis pessoas contemporâneas a nós é real.
e é essa a realidade que precisamos subverter e a arte é um poderoso instrumento de subversão. tenho ido ao encontro da arte que provoca revolta porque é disso que precisamos.
então, vamos combinar o seguinte?
se informe, consuma arte ou o que te inspirar a fazer o que estiver ao seu alcance. encontre pessoas para ter grupos de apoio mútuo e se distraia. mas não exagere nas doses (de nada disso).
e, para encerrar, mais uma reflexão.
eu preferiria que a imagem viral não fosse uma feita por AI. existem várias imagens reais feitas por profissionais incrivelmente corajosos que estão criando provas reais sobre tudo o que está acontecendo.
não queria que fosse uma imagem ultrasensível. nos últimos dias, vi coisas que jamais vou esquecer e que seguem aparecendo em flash pra mim mesmo quando estou de olhos abertos.
te aconselho a não procurar ou a fugir de tudo que for gráfico demais. sinto que temos "precisado" buscar extremos para nos sensibilizar. tente combater isso em você porque não nos resta muito mais a ver para tentar sentir algo que nos mova.
tem pra hoje
homenagem 🤓
quando atingir a meta, vamos dobrar a meta. comecei a tem, mas acabou me propondo buscar 100 inscrições e aconteceu: temos 100 pessoas aqui e agora eu quero + 100. obrigada, gente!
para conhecer ✊🏽
se você ainda não sabe nada sobre, tá passando da hora de conhecer james baldwin.
lá naquela rede 📲
o artivistha está entre os meus perfis favoritos para acompanhar e o nome denuncia o motivo: é arte com ativismo, ou seja, arte que provoca (o que tiver que provocar).
Eu queria devolver o conhecimento para os livros! Já chega. Só me deu problemas hahahaha
Essa news me lembrou uma conversa na faculdade sobre o conceito de cultura, que é muito diverso e não pasteurizado como o mundo corporativo gosta. Mas talvez arte seja como você disse, a arte provoca, mesmo se ela vier do entretenimento.
Pensei nisso por causa de uma série que eu gosto muito, Doctor Who, em que dois episódios me marcaram demais. No primeiro o Doutor encontra Vincent Van Gogh (Vincent and the Doctor), e a sensibilidade de ver o mundo para além do realismo seco que nos submetemos todos os dias me fez pensar como nos entretemos até com o mundo "real", por pior que ele esteja sendo.
“Hold my hand, Doctor. Try to see what I see. We’re so lucky we’re still alive to see this beautiful world. Look at the sky. It’s not dark and black and without character. The black is in fact deep blue. And over there! Lights are blue. And blue in through the blueness, and the blackness, the winds swirling through the air… and then shining. Burning, bursting through! The stars, can you see how they roll their light? Everywhere we look, complex magic of nature blazes before our eyes.”
No segundo, nessa semana (Dot and Bubble), onde a nova encarnação do personagem é um ator negro pela primeira vez (Ncuti Gatwa da série Sex and Education), depois de salvar um mundo mais uma vez, sofre um ataque racista das pessoas que ele tentou proteger. Talvez esse tenha sido o episódio mais chocante de qualquer série eu assisti. O personagem que em todas as suas encarnações foi um um homem branco (e só uma vez uma mulher), nunca enfrentou isso antes, assim como eu sendo um homem branco, estou acostumado com o privilégio de ter meu direito de existir assegurado (talvez eu ainda fale sobre ele, quero terminar de ler Sister Outsider primeiro)
"You, sir, are not one of us," she says. "You were kind – although it was your duty to save me, obviously. I mean screen to screen contact is just about acceptable but in person? That's impossible."
Ainda não sei como ser menos ativista de sofá, ainda não sei como ter energia para isso, mas se sensibilizar com a arte no dia a dia talvez seja o caminho, ao invés de somente com o ultrarealismo das redes (pensei muito no conceito de ultraviolência do Laranja Mecânica quando você escreveu sobre isso). Enfim, divagações das primeiras horas do dia, talvez não faça sentido 😅