tem, mas acabou #17 | quem é você além do que você faz?
se o seu trabalho deixasse de existir amanhã, que valor você teria para a sociedade? o que faz sua vida valer a pena? o que você vê quando olha no espelho?
olá, você!
esta semana, terminei a leitura de Tribos, um livro de Seth Godin que fala sobre precisarmos de pertencimento e de como lideranças podem surgir, especialmente no contexto da internet ― é basicamente um guia.
não quero reproduzir nada do livro aqui (para ser sincera, eu sequer recomendo a leitura. caso sua curiosidade tenha batido, procure um bom resumo; deve bastar). mas quero repetir a pergunta que foi feita ao final das discussões no clube do livro da firma:
que tribo (ou grupo de pessoas) você seria capaz de liderar?
proponho que você pense nisso mesmo que não queira liderar ninguém, seja no trabalho ou fora dele. descobrir quem a gente teria o poder de influenciar diz mais sobre nós do que sobre os outros.
🔎 a news de hoje é sobre:
propósito que não paga as contas
grandes perdas recentes
reconhecer quem a gente é
entre as várias provocações sobre a carência da sociedade por boas lideranças e sobre como essas são raras, Seth traz reflexões que levam a um ponto que considero essencial: para liderar, é preciso ter fé.
a conversa não é sobre espiritualidade, mas sobre a capacidade de acreditar em algo (e em si próprio) a ponto de mobilizar outras pessoas em torno e em busca desse algo. em outras palavras, é preciso ter um sonho ― como o autor menciona ― ou um propósito ― como eu prefiro chamar.
nos últimos tempos, a ideia de ter um propósito para ser feliz no trabalho foi muito difundida. sinceramente? vejo isso quase como uma utopia capaz de gerar ainda mais frustração diante das obrigações profissionais.
embora seja possível aliar propósito e trabalho, é algo que não acontece com todo mundo. no fim do dia, a função do trabalho é pagar as contas e nos ajudar a realizar sonhos. pra muita gente, até isso é difícil, infelizmente.
se for possível gerar impacto positivo, melhor. se for possível que esse impacto positivo tenha a ver com um propósito identificado para a vida, jackpot! se nada disso for possível, a alternativa é encontrar formas de viver o propósito para além do trabalho.
quando Pepe Mujica e Sebastião Salgado morreram ― com diferença de dez dias em maio deste ano ― vi muitas coisas que me chamaram a atenção. entre elas, uma frase comum sobre ambos: esse soube fazer a vida valer a pena.
Mujica e Salgado foram líderes. em partes, usaram seus trabalhos na atuação política e na fotografia respectivamente, para transmitir mensagens, reunir apoio e (tentar) promover mudanças. contudo, fizeram tudo isso além das suas plataformas profissionais também.
não acho que ninguém precisa ter a ambição de liderar multidões. inclusive, como disse Seth Godin, exceto na política, a liderança bem-sucedida pode ficar restrita à influenciar um pequeno grupo de pessoas engajadas. o que pode até começar como um movimento não-planejado.
realmente, estamos carentes de bons líderes que, por vezes, são "só" pessoas que identificam para si um propósito e passam a inspirar os outros com seu modo de pensar e existir no mundo. com a internet, é mais fácil impactar outras pessoas "só" compartilhando um pouco disso.
“Fomos educados para o crescimento, mas não para a felicidade”. - Pepe Mujica
se o movimento for, de fato, planejado e intencional, acredito ser possível promover mudanças, quem sabe micro revoluções na vida de duas, três ou 228 pessoas (número de inscritos na news no momento em que essa edição é escrita).
sabe a ideia de aproveitar a vida e, com sorte, fazer a diferença na existência de ao menos um alguém? esse é o ponto de partida ― e depende da gente reconhecer quem a gente é além do que nos rotula: formação, cargo e qualquer outra ideia que nos reduza a um ser que perde seu valor fora do trabalho.

não tenho dúvidas que é possível entregar valor por meio do trabalho, mas me incomoda pensar que seja apenas dessa forma. especialmente porque agrava a ideia de que precisamos produzir, produzir e não ter tempo para mais nada. nem para reconhecer a nós mesmos.
enxergar além da cara (por vezes cansada) que a gente vê no espelho.
tem pra hoje
quem é você quando não está produzindo? 💻
uma reflexão para você que quer pensar como o anseio pela produtividade afeta a maneira que você se vê.
Serra Pelada 📷
a história da foto mais famosa de Sebastião Salgado.
provocação 🤔
um post sobre: como a terapia pode nos ajudar em caso de capitalismo?
Oi, Lari! Voltando aqui no substack. Fiquei pensando no seu texto esses dias, porque mais de uma vez eu tive que "liderar" na vida, mesmo não querendo fazer isso. Aí me peguei com medo disso acontecer de novo. Liderar, de verdade, não só oprimir pelo poder, trás traumas, e acho que além de encontrar um grupo como você falou, precisamos descobrir como lidar com esses traumas.
nunca tive esse objetivo de influenciar ninguém, tanto que minha descrição nas redes sociais (quando eu ainda estava nelas) era: "jornalista e desinfluenciador digital". hahaha