tem, mas acabou #4 | êeee, faraó!
eu falei faraó! que mara mara maravilha, ê! egito, egito, ê!!
olá, você!
sou virginiana organizada e ansiosa. antes de lançar a news, defini alguns assuntos que poderia trazer pra cá, inclusive atrelando tema ao calendário.
é por isso que a edição de hoje iria se chamar carnavrau caso essa ideia tivesse rendido algo. não rendeu. o que me inspirou mesmo foi uma frase de lewis carroll (sim, aquele de alice) que vi em um marca-página que encontrei por acaso.
maaaas, prometo que não invoquei tutancâmon à toa, tá?
🔎 a news de hoje é sobre:
quem já fomos
quem vamos ou não ser
deborah secco
o melhor carnaval do país
a (retomada d)o carnaval de rua de BH está completando 15 anos e falo com tranquilidade que é um dos eventos carnavalescos mais incríveis do nosso país.
de pequeninha, eu curtia a folia na escolinha, fantasiada de não-lembro-o-quê e, depois, ia pra roça do meu avô passar a semana. cresci com esse costume de viagem pra perto do mato, na companhia da família, ouvindo é o tchan e fazendo guerra de balão de água.
apesar da "farra", isso fez de mim alguém que sempre preferiu tomar distância do carnaval e confesso que, embora tenha tentado alguns anos atrás, ainda não consegui mudar isso. a única coisa que realmente me atrai são os desfiles na TV.
dia desses, estava tentando descobrir se havia em mim alguma força capaz de me animar a sair em um bloquinho de novo e cheguei a lewis carroll.
quis que minha criança interior, aquela que se divertia ao som do axé e na folia em família, despertasse para me pegar pela mão, com toda animação, e me levar pra um dos bloquinhos que toca as músicas daquele gênero e época.
e aí eu li no marca-página aleatório que encontrei por acaso:
"não posso voltar para o ontem porque lá eu era outra pessoa".
― lewis carroll, grandão, lá em 1865.
não é tipo: se o carroll falou, tá falado. mas entendi que minha criança interior, sozinha, não vai conseguir me despertar para algo que a pessoa que eu sou hoje (uma jovem idosa) não está afim.
isso me fez pensar nas versões de mim que já não existem; por mais que ainda habitem a mente de pessoas que insistem em me dizer, em tom negativo, que eu mudei. calma, calebreso 😉
me conta: existe algo em uma versão anterior sua que você sente falta? existe uma versão sua que ainda não se concretizou, mas que você queria que fosse a de agora?
ao invés de tirar os sapatos e deitar no divã ― embora você ainda possa levar isso para terapia/análise ―, ouça a voz da razão. absolem? não, deborah secco mesmo:
"a gente não é o que a gente quer ser, a gente é o que a gente consegue ser".
com essa, aceitei que não vou ser a louca dos bloquinhos este ano, mas que isso não me impede de seguir falando bem do carnaval de BH.
você gosta de carnaval? te juro, pega minha dica: se preparar para vir. eu sei, tá em cima da hora agora e é capaz de você nem achar lugar pra ficar, então, se planeje pro ano que vem.
(um motorista de app me contou que tem gente chegando para se hospedar em motel porque vaga em hotel já não existe. uma situação e tanto pros paladinos da moral e dos bons costumes que gostam de dizer que é a festa de libertinagem).
nosso primeiro carnaval aconteceu em 1897, mas foi só nos anos 2000 que a festa foi oficializada por lei. em 2015, a história já tava escrita: um milhão de pessoas na rua e mais de 200 blocos por essa cidade que somente nós, que aqui nascemos, podemos chamar de roça grande.
o que eu mais gosto, porém, é saber que o carnaval de BH é político porque o que chamamos de "retomada" é um movimento que surgiu da luta pelo direito de ocupar o espaço público e de fazer disso uma possibilidade para todas as pessoas.
claro, desde que o movimento obteve êxito, as coisas mudaram um pouco. muita gente vai pra rua sem querer se preocupar com nada além de curtir (e não há nada de errado nisso).
contudo, tem sempre alguma coisinha em termos de posicionamento rolando. por exemplo, o bloco pena de pavão de krishna ou ppk (um dos mais lindos, vale dizer) costuma desfilar pela cidade chamando atenção para questões ambientais e sociais.
em boa medida, o carnaval de BH é consciente e também bastante plural. muitos blocos legais foram, sim, tomados por outros "grupos" com o tempo, mas está longe de faltar espaço pra todo mundo.
tem bloco kids, bloco pet, bloco pequeno, bloco gigante… bloco que começa cedo e dura pouco, bloco que atravessa a cidade e dura o dia inteiro. vai ter bloco entoando macetando, o hit do carnaval, e bloco entoando o hino eu falei faraó! êeeee faraó!
tá entendendo porque eu queria muito uma versão de mim carnavalesca?
pois bem. enquanto sigo sendo quem eu consigo ser, senti de dizer que tudo que eu escrevi aqui é sobre o carnaval, mas também é sobre *muito* mais do que isso.
um beijo pra você que curte margareth menezes e até a próxima.
tem pra hoje
para entender a dimensão do espetáculo 👀
mesmo que você não seja de BH ou não tenha vindo pra cá, dá um confere nesta planilha maravilhosa com todos os bloquinhos da cidade só para ter noção do que falei.
dedicatória ❤️
essa edição vai pra andrezza, amiga-irmã de outras vidas que reencontrei em 2023 e que, antes disso, havia reencontrado no único bloquinho de rua que eu fui: o tchanzinho zona norte.
contexto ✍🏻
vou deixar aqui esta matéria do o beltrano caso você queira saber mais sobre o movimento de retomada do carnaval de BH.
uma pergunta estilo duolingo 😅
como você traduziria tem, mas acabou pro inglês?
agora acabou mesmo (ou quase)
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acho que "there's no more" carrega alguma coisa da "lógica" do português e faz uma vaga referência à "faith no more" e edgar allan poe. quem sabe?
me identifiquei com a sua relação com o carnaval: bloco de carnaval não é pra mim (não tenho nenhuma vontade de ir), prefiro escola de samba (mas, como jovem idoso, não assisto mais aos desfiles porque gosto de dormir cedo). hahaha