olá, você!
eu estou sentindo o que a gente sente quando está lidando com muita coisa e ainda não conseguiu assimilar tudo. não sei que nome dar a isso, você sabe?
o que sei é que nina simone teria feito 91 anos no último domingo, 21 de janeiro. sempre achei meio estranho isso de "comemorar aniversário" de gente que morreu, mas prefiro mesmo pensar no dia do nascimento do que no tal "aniversário de morte".
nina foi genial e geniosa. era alguém que, entre muitas outras coisas, sabia que nada dá certo se você não disser como se sente.
🔎 a news de hoje é sobre:
crianças
um episódio de the office
adolescência
"inteligência emocional"
nina simone
sentimentos são difíceis por natureza, acho. ou por nossa culpa.
crianças sabem se expressar muito melhor do que nós quando incentivadas a entrar em contato com seus sentimentos (depois da fase em que tudo é choro, claro). inclusive, tendem a ser mais criativas e genuínas em relação a isso.
nos últimos anos, e isso é bem recente, começamos a questionar o hábito de responder "tudo bem e você?" mesmo quando não estamos bem. existe, ainda, um diálogo mais curioso do que esse:
pessoa A: oi! como você está?
pessoa B: ei, tá joia?
já notou, né? na maioria das vezes, a pergunta é feita só por educação mesmo. a maioria dos seres humanos neste planeta temem que a outra pessoa responda que não está bem.
porque quase ninguém está e quase ninguém sabe falar sobre isso, embora seja possível perceber um movimento questionável em busca de melhorar isso, e que às vezes leva a conversas assim:
(via kribshna on X)
a questão é que, para oferecer algo menos tosco do que um "eu acolho seu sentimento", temos que entrar em contato com os nossos sentimentos. entender o que acontece com a gente facilita isso de saber o que responder.
também facilita isso de saber o que dizer; o que, quando, para quem e como externalizar nossas próprias questões.
estava revendo um episódio de the office (RIP andre braugher!) ― mais precisamente, money, pt. 2 ou T04EP08. depois de viver algumas reviravoltas na vida, a pam decide que não vai mais guardar coisas para si e falar o que pensa ou precisa.
(é daí que ela cria coragem para avisar um garçom que ele errou o pedido e entregou duas cervejas comuns, quando uma deveria ser light).
durante muito tempo, pam soube se ouvir (mais avançada do que muita gente), mas reprimiu isso. a gente devia aprender a não se reprimir (tanto) e a deixar o outro saber, me entende?
não sei você, mas lá na adolescência eu consumi conteúdos em revistas teen e na TV que sugeriam que, se uma pessoa gostasse mesmo de mim, saberia tudo e perceberia tudo a meu respeito.
sem dúvidas, existem coisas que a gente sabe e percebe, mas ninguém ― repito, ninguém ― é advinho. por isso, na vida adulta (principalmente), a gente precisa lembrar que a melhor forma de desfazer o nó que alguns sentimentos formam na nossa garganta é colocando pra fora.
vale fazer terapia.
vale escrever cartas e não mandar.
vale escrever cartas e escolher mandar.
vale abrir a boca e chamar o outro pra conversar.
"a vida é curta. as pessoas não são fáceis de conhecer [...] então, se você não lhes disser como se sente, não vai chegar a lugar nenhum".
quando falei do caos em outra edição da tem, mas acabou, lembrei que a única coisa que conseguimos controlar somos nós mesmos (e olhe lá).
por vezes, é mais sábio não chamar ninguém para conversar e encontrar outra forma de desfazer o nó. se a preferência for por não colocar pra fora, existem alternativas para conseguir engolir esse bolo antes de engasgar.
por um lado, a gente está sentindo como se estivesse surfando na crista da evolução emocional. terapia, mindfulness, óleo essencial, limites mais claros ao-menos-na-teoria e por aí vai.
por outro, está incrivelmente disponível para mal conseguir respirar por conta do nó de sentimentos na garganta ao invés de abrir a boca e falar. relações adultas precisam ser pautadas pelo diálogo.
(diálogo mesmo. indireta não funciona).
não é que a gente tenha que responder "tô bem mal" quando alguém passar por nós soltando um educado "e aí, tudo bem?", sem qualquer pretensão de ouvir a resposta.
não é que a gente deva falar mesmo quando souber que é melhor calar e lidar com os sentimentos de outra forma.
mas, talvez, nos faça bem lembrar de que é básico comunicar o que a gente quer que as outras pessoas saibam porque, além de sermos seres complicados demais, estamos lidando com muito o tempo todo e em todo lugar.
ouça nina simone.
aprenda a colocar os sentimentos pra fora e até a próxima!
tem pra hoje
o outro lado da moeda 🪙
nem sempre dá certo. tem gente que não vai entender o que a gente falar. e, pior (muito pior), tem gente que sequer vai se dispor a ouvir (ou simplesmente ler) o que a gente sente que ~precisa~ falar. e dói, mas passa.
pra ver 📺
eu poderia deixar músicas da nina simone, mas preferi sugerir que você assista a what happened, miss simone? (2015)
a origem do "como você está hoje?" na minha vida ♾️
durante quase quatro anos de trabalho voluntário, conversei com pessoas enlutadas para escrever obituários em prosa sobre as vítimas da covid-19 no brasil.
foi lidando com familiares e amigos de quem se foi que aprendi a perguntar sobre o tempo presente, em uma expectativa muito real de ouvir (ler) e entender como acolher cada sentimento (de verdade!).
acabou (ou quase)
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Foi ótimo esse texto ter caído na minha mão! Estou numa fase que tenho achado complicada, de enfrentar desconfortos, de ganhar consciência do que preciso mudar e porque preciso. Às vezes, a consciência vem tanto de uma vez que eu me embolo, não consigo agir e me frustro. Mas agora, com
as questões identificadas, é ir em frente pra redesenhar os ciclos. Obrigada pelas palavras!
Não é fácil colocar os sentimentos para fora, eu fico admirado com quem consegue. E que falta essa comunicação eficiente não faz, não é mesmo? Eu geralmente sou desses que responde um "tudo bem?" com um "tudo bom?". Senti que no setembro amarelo até houve um movimento por uma escuta maior, uma atenção maior com quem está ao seu lado, mas logo se percebeu que também não era bem assim e que, dependendo do caso, o melhor seria que a pessoa procurasse um profissional capaz de lidar com seus problemas. O fato é que gentileza nunca fez mal e uma boa escuta também não. Infelizmente, é algo que estamos perdendo – e o hábito de dialogar vai indo junto.