eu preciso ler mais Conceição Evaristo. li becos da memória, uns anos atrás, e achei a história uma pedrada, mas o estilo meio tímido (talvez por ser um livro mais antigo dela, que demorou pra ser relançado), certinho, quase não combinava com as coisas sendo narradas.
Brás Cubas é muito engraçado.
às vezes eu acho que a gente devia demolir a abl e recomeçar, só pra tirar o Roberto Marinho dali (entre outros nomes). como se os novos nomes merecessem um espaço melhor. também preciso ler o livro do Krenak, que tá ali na estante me encarando.
preciso ler "a vida não é útil", do krenak. existe uma crueza em algumas coisas que ele produz que me amarga a boca, sabe? um incômodo que vem da provocação e/ou de um vislumbre da realidade. acho bom.
e concordo, seria ótimo refazer a abl de modo que a gente tivesse menos "apesar de...".
Amei e achei super importante o Ailton Krenak ser imortalizado na academia brasileira de letras, que é uma instituição super elitista! Fique pensando um pouco só na frase: a imortalidade precisa preceder a morte.
O conceito de morte é importante para mim, e alguns autores que eu gosto muito já trouxeram isso como Saramago, nas Intermitências da Morte, onde ela decide para de matar porque não aguenta mais a humanidade reclamar (e todos os problemas do mundo se agravam por isso), Neil Gaiman, com a maravilhosa visão da morte do Perpétuos, que a cada 1000 anos vive um dia somente para dar valor a vida. Who wants to live forever, do Queen, também não sai da minha cabeça, retratando a relação do imortal Connor MacLeod e sua esposa, mortal; no final ela segue o ciclo de todos os seres do mundo e ele continua seguindo sem conseguir acompanhar quem era importante para ele, sem saber se a sua imortalidade é uma benção ou punição.
Acredito que as vezes procuramos demais a imortalidade em vida, como se não houvesse coisa mais importante, mas me questiono se os nossos imortais pensavam nisso. Parece um conceito tão pós-moderno (e por que não, capitalista: sem morte não há consumo), essa busca por negar o ciclo da natureza, a auto-afirmação e o desejo da existência da humanidade como perpétua, mas não dos outros seres, negando que a morte faz parte do nosso ciclo no mundo.
Se a imortalidade só pode ser alcançada por alguns, se ela cria mais desequilíbrios e se ela é uma válvula de escape para não lidarmos em vida com um conceito que não entendemos e nos apavora, a morte, qual o sentido dela? Em algum momento a entropia no universos vai chegar ao grau máximo e tudo o que é considerado imortal vai sumir, então mesmo esta imortalidade é transitória.
Meu ponto, depois de tantas voltas, é que pensar na finitude da nossa existência, de não desejarmos a imortalidade, é uma concepção mais ligada ao ciclo da natureza que a humanidade tenta desesperadamente se desprender, e uma concepção mais saudável e feliz para os humanos, que sejam imortais por algum tempo somente, em suas ações com os outros, mesmo somente com aqueles que amam. Minha avó me tocou desta forma, e já partiu deste mundo, mas dentro da minha existência, talvez um dia dos meus filhos, dos alunos dela (ela era professora) ela alcançou essa transitoriedade. Pode ser que depois de várias gerações ela seja esquecida, assim como eu, mas o que ela foi continua sendo importante para tudo o que veio depois. Não sei se fez sentido.
Sobre grandes nomes, tenho dificuldade com listas, mas penso em um, para pelo menos figurar nas academias brasileiras e letras: Maria Carolina de Jesus.
seu comentário me tirou um sorriso tão grande, francisco!
como te disse em outra conversa, talvez eu o responda (também) de outra forma, mas queria já dizer que eu tenho uma proximidade grande com a ideia de não buscar a inevitabilidade da morte, tampouco a vida eterna.
uma das minhas leituras favoritas sobre o assunto até agora é 'para toda a eternidade', de caitlin doughty.
quando reler brás cubas, vai ver que não lembra bem da história, porque, na verdade, não tem história. está no meu top 3 livros pra levar pra uma ilha deserta. não me arrisco a apontar imortalidades, mas acho que você perdeu uma oportunidade de ter visto a conceição na academia mineira.
perdi demais, jão. ainda não superei! depois da cerimônia, meu contato se encontrou com meus pais e foi assim que eu soube que ele teria conseguido um convite. mandei uma mensagem para manter a porta aberta para outos eventos que possam me interessar e aproveitei para falar um pouco de conceição e ponciá.
a mensagem chegou também ao presidente da academia mineira, com promessa de que seria compartilhada com a própria conceição. não creio que tenha acontecido ou que vá acontecer, é do tipo de coisa que as pessoas esquecem, mas tudo bem.
sempre fico em dúvida ao criar essas listas, mas incluiria gil, caetano, chico, milton nascimento, ney matogrosso, fernandona, laura cardoso, nathalia timberg, lima duarte, tony ramos, milton hatoum, conceição evaristo, krenak…
tenho uma dificuldade imensa também. durante os anos em que escrevi um blog musical, repeti incontáveis vezes que não sabia eleger favoritos... mas gosto de tentar criar essas listas de relevância.
percebeu que a sua praticamente se divide em dois blocos temáticos? :))
eu preciso ler mais Conceição Evaristo. li becos da memória, uns anos atrás, e achei a história uma pedrada, mas o estilo meio tímido (talvez por ser um livro mais antigo dela, que demorou pra ser relançado), certinho, quase não combinava com as coisas sendo narradas.
Brás Cubas é muito engraçado.
às vezes eu acho que a gente devia demolir a abl e recomeçar, só pra tirar o Roberto Marinho dali (entre outros nomes). como se os novos nomes merecessem um espaço melhor. também preciso ler o livro do Krenak, que tá ali na estante me encarando.
preciso ler "a vida não é útil", do krenak. existe uma crueza em algumas coisas que ele produz que me amarga a boca, sabe? um incômodo que vem da provocação e/ou de um vislumbre da realidade. acho bom.
e concordo, seria ótimo refazer a abl de modo que a gente tivesse menos "apesar de...".
Grandões do nosso tempo? Milton Nascimento e Elza (que se foi, mas tem pouco tempo).
Bituca com certeza está na minha lista também :)
Amei e achei super importante o Ailton Krenak ser imortalizado na academia brasileira de letras, que é uma instituição super elitista! Fique pensando um pouco só na frase: a imortalidade precisa preceder a morte.
O conceito de morte é importante para mim, e alguns autores que eu gosto muito já trouxeram isso como Saramago, nas Intermitências da Morte, onde ela decide para de matar porque não aguenta mais a humanidade reclamar (e todos os problemas do mundo se agravam por isso), Neil Gaiman, com a maravilhosa visão da morte do Perpétuos, que a cada 1000 anos vive um dia somente para dar valor a vida. Who wants to live forever, do Queen, também não sai da minha cabeça, retratando a relação do imortal Connor MacLeod e sua esposa, mortal; no final ela segue o ciclo de todos os seres do mundo e ele continua seguindo sem conseguir acompanhar quem era importante para ele, sem saber se a sua imortalidade é uma benção ou punição.
Acredito que as vezes procuramos demais a imortalidade em vida, como se não houvesse coisa mais importante, mas me questiono se os nossos imortais pensavam nisso. Parece um conceito tão pós-moderno (e por que não, capitalista: sem morte não há consumo), essa busca por negar o ciclo da natureza, a auto-afirmação e o desejo da existência da humanidade como perpétua, mas não dos outros seres, negando que a morte faz parte do nosso ciclo no mundo.
Se a imortalidade só pode ser alcançada por alguns, se ela cria mais desequilíbrios e se ela é uma válvula de escape para não lidarmos em vida com um conceito que não entendemos e nos apavora, a morte, qual o sentido dela? Em algum momento a entropia no universos vai chegar ao grau máximo e tudo o que é considerado imortal vai sumir, então mesmo esta imortalidade é transitória.
Meu ponto, depois de tantas voltas, é que pensar na finitude da nossa existência, de não desejarmos a imortalidade, é uma concepção mais ligada ao ciclo da natureza que a humanidade tenta desesperadamente se desprender, e uma concepção mais saudável e feliz para os humanos, que sejam imortais por algum tempo somente, em suas ações com os outros, mesmo somente com aqueles que amam. Minha avó me tocou desta forma, e já partiu deste mundo, mas dentro da minha existência, talvez um dia dos meus filhos, dos alunos dela (ela era professora) ela alcançou essa transitoriedade. Pode ser que depois de várias gerações ela seja esquecida, assim como eu, mas o que ela foi continua sendo importante para tudo o que veio depois. Não sei se fez sentido.
Sobre grandes nomes, tenho dificuldade com listas, mas penso em um, para pelo menos figurar nas academias brasileiras e letras: Maria Carolina de Jesus.
seu comentário me tirou um sorriso tão grande, francisco!
como te disse em outra conversa, talvez eu o responda (também) de outra forma, mas queria já dizer que eu tenho uma proximidade grande com a ideia de não buscar a inevitabilidade da morte, tampouco a vida eterna.
uma das minhas leituras favoritas sobre o assunto até agora é 'para toda a eternidade', de caitlin doughty.
quando reler brás cubas, vai ver que não lembra bem da história, porque, na verdade, não tem história. está no meu top 3 livros pra levar pra uma ilha deserta. não me arrisco a apontar imortalidades, mas acho que você perdeu uma oportunidade de ter visto a conceição na academia mineira.
um abraço, lari
perdi demais, jão. ainda não superei! depois da cerimônia, meu contato se encontrou com meus pais e foi assim que eu soube que ele teria conseguido um convite. mandei uma mensagem para manter a porta aberta para outos eventos que possam me interessar e aproveitei para falar um pouco de conceição e ponciá.
a mensagem chegou também ao presidente da academia mineira, com promessa de que seria compartilhada com a própria conceição. não creio que tenha acontecido ou que vá acontecer, é do tipo de coisa que as pessoas esquecem, mas tudo bem.
sempre fico em dúvida ao criar essas listas, mas incluiria gil, caetano, chico, milton nascimento, ney matogrosso, fernandona, laura cardoso, nathalia timberg, lima duarte, tony ramos, milton hatoum, conceição evaristo, krenak…
tenho uma dificuldade imensa também. durante os anos em que escrevi um blog musical, repeti incontáveis vezes que não sabia eleger favoritos... mas gosto de tentar criar essas listas de relevância.
percebeu que a sua praticamente se divide em dois blocos temáticos? :))
é que um nome foi puxando o outro…