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tenho pensado bastante nisso e depois do seu li mais uns outros textos que levantam a questão. isso me leva a crer que o problema não é a gente, é a situação. tive uma conversa assim com a psicóloga e ela disse que acharia bastante duvidoso não se incomodar com as coisas que acontecem e são consideradas normais. acho que eu também acabaria por duvidar do meu caráter se um dia me sentisse "normal", embora eu ache que quem se considere normal raramente olha pra si mesmo de forma crítica. enfim, até escrevi sobre isso também: sei de vários conceitos de loucura, nomes pra transtornos psiquiátricos, sintomas, milhares de neurodivergências, mas ninguém até agora me apresentou um conceito de normalidade. então a gente é diferente do que, pra ser exato? pensar nisso me relaxou um pouco. que se loucura é um termo inespecífico, por consequência, também deve ser inespecífica a normalidade.

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vim responder aos comentários tempos depois de ter soltado a news. tinha até esquecido desse tema aqui e aí achei bem interessante pensar sobre mais uma vez, sobretudo a partir do seu comentário.

ontem, lembrei de uma das minhas melhores amigas que sempre solta um "eu sou doida, sô"; no bom e velho mineirês. e, por um instante, pensei que todas as pessoas que eu conheço costumam se avaliar assim também.

mas não é beeem dessa forma. conheço algumas que se enxergam dentro da normalidade (o que quer que isso seja) e as dividi, até o momento, em dois grupos: 1) o das pessoas que não se importam e 2) o das pessoas que foram tão bem colocadas dentro de uma caixa que nem sabem se se importam ou não.

tenho compaixão pela galera do segundo grupo. acho que é a turma da ignorância é uma bênção. as outras, talvez, sejam só ruins mesmo.

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Apr 19Liked by lari reis

Bizarra essa sintonia do medo de enloquecer, será que vem das minhas raízes mineiras? Até hoje quando falo para alguém "tá louca(o), perto do meu avô, ele me corrige enfatizando como aquela palavra é "muito feia". Uma loucura. Não?

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é engraçado como o peso das palavras pode variar a depender da balança, né? talvez a visão do seu avô sobre a louca ou louco ser uma palavra feia venha do medo associado a um estigma ou ao caos que muitas pessoas testemunharam, ainda que do lado de fora, na época em que instituições manicomiais eram comuns e completamente mal geridas.

eu tenho uma questão com a palavra burra ou burro. já me causou muito mais mal-estar do que hoje, mas o incômodo persiste.

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Como uma boa neurótica amei essa news por motivos óbvios! A primeira coisa que me chamou atenção foi o nome da sua newsletter, me lembrei na hora do albúm do pato fu, e vi que na primeira vc falou sobre isso. Muito legal! Bjs

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acho que você foi a primeira pessoa a comentar sobre o álbum do pato fu! não acho que foi por acaso que este post atraiu a dona de um depósito de neuroses 😅

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May 5Liked by lari reis

Quando eu era adolescente tinha uma espécie de epifania que só acontecia quando eu tomava banho de chuveiro, mais especificamente quando a água batia na minha cabeça. Eu ouvia sussurros em meus ouvidos. Eram palavras aleatórias, umas por sobre as outras. Eu tentava armazenar algumas na memória, mas elas pareciam escorrer pelo ralo, junto com a água do banho. Nesses momentos eu sentia um misto de curiosidade, medo e encantamento. Invariavelmente eu pensava "será que tô ficando louca?". Em algum momento isso parou de acontecer. Mais tarde, com a descoberta da síndrome de ansiedade generalizada, foi a vez dos pensamentos intrusivos. A pergunta era a mesma. Em algum lugar eu li "quem é louco mesmo, nunca se fará essa pergunta". Será? Há muito tempo desapeguei dessa ideia de querer ser "normal". As melhores pessoas que eu conheço não o são. Tenho carinho especial pelos desatentos... esses costumam ter alma de criança pra sempre. Afinal, para praticar maldades é preciso ter muito foco. Aprendi a abraçar minha loucura com afeto e compaixão. O déficit de atenção é tipo a minha segunda pele. Assim como a melancolia. Já a depressão e a ansiedade são visitas ocasionais. E nunca avisam previamente quando irão chegar, tampouco quando vão partir. Creio que me acostumei a navegar nessas oscilações de humor. Tem vezes que dói muito. E dói por todo canto do corpo. Com isso eu nunca vou me acostumar, acho...

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seu relato sobre as epifanias vividas na adolescência me remetem a coisas quase fantasiosas que vivi na minha infância. frequentemente, tinha a sensação de que estava acessando coisas que não faziam parte dessa realidade e, por isso, não ficavam em mim com tanta clareza... assim como as palavras que escorriam pelo ralo.

sinceramente, hoje em dia, acho que "normais" é que estão vivendo a loucura. as nossas, ainda que às vezes nos causem dor para além da conta, me parecem reflexos de uma sensibilidade que falta a quem acha que está tudo bem e sente como se estivesse tudo bem com esse nosso mundo.

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como diz o ditado, de perto, ninguém é normal. uma dose de loucura é sempre bem-vinda.

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te falar que, uns bons anos atrás, eu via essa dose bem-vinda de loucura como algo cool. hoje, vejo como um "item" de sobrevivência.

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